O povo diz que os caipira
Vive na brutalidade
Foi que eu deixei lá da roça
E vim morá aqui na cidade
Hoje eu moro em São Paulo
No meio da sociedade
Numa rua iluminada
Tudo com eletricidade
Eu vim cheio de esperança
Com a mulher e as criança
Pra nossa felicidade
Meu vizinho é um home rico
Que não me cumprimentava
Fizero um aniversário
E com os amigo festejava
Minha filha da janela
A festa observava
Um bolo em cima da mesa
Que até nóis se admirava
Ela me pediu um pedaço
Pra matar sua vontade
Fosse preciso eu pagava
Bati na porta do rico
Que atendeu com soberbia
Bateu-me a porta na cara
Porque eu lhe aborrecia
Eu vortei pra minha casa
Que meu coração doía
Já era tarde da noite
Toda a cidade dormia
Nóis fizemo um bolo em casa
E lhe dei com todo agrado
E a menina não queria
Quando foi no outro dia
Ela amanheceu amoada
Tudo eu lhe oferecia
Mas ela não quis mais nada
E a morte impiedosa
Que já estava de emboscada
Levando embora pra sempre
Minha filhinha adorada
Perdi a ilusão do mundo
Pra mim só me resta a morte
A vida não vale nada
O seu último desejo
Foi o que eu pude lhe dá
Era um vestidinho branco
Como a santinha do artá
Os meus olhos já secaram
Não consigo mais chorá
Só trago uma dor no peito
Que não posso suportá
O rico que goze a vida
Porque o mal que ele me fez
Lá no céu há de pagá, ai
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