Na estampa um pobre louco,
Na alma um guitarreiro.
Como abrigo a mão alheia,
Por querência o pago inteiro.
Como o guitarreiro louco
No pampa era conhecido.
Prá cantar tinha a voz rouca,
Prá tocar, notas de ouvido.
E a guitarra, companheira,
Sempre quis saber a fundo
Porque naqueles braços
Andejava pelo mundo.
Muitos risos debochados
Ouviam-se em pulperias
Quando o louco guitarreando
Cantava sua porfia:
"Se os home não dão bola
Para o Rio Grande que fiz,
Boto cerca nas divisas
E faço um novo País."
E a guitarra, companheira,
Sempre quis saber a fundo
Porque o louco insistia
Mexer em parte do mundo.
É o tempo quem confirma
Quando a profecia é certa.
Quem sabe a louca carcaça
Não tinha alma de profeta?
Hoje os risos debochados
Não se ouvem em pulperias
Quando um consciente, cantando,
Repete a louca porfia.
E a guitarra, companheira,
Hoje quer saber a fundo
Porque chamavam de louco
Quem da razão fez seu mundo.
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